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A mostrar mensagens de 2016

Vamos lá fechar 2016!

Começou e está a acabar, no meio vertiginoso, aconteceram muitas coisas. Essencialmente a sensação que tenho é que em 2016 me deram uma longa anestesia local. Estive todo o ano consciente, mas incapaz de evitar que algumas coisas acontecessem. É esta a lição. Nem tudo é para intervirmos, nem tudo é para fazermos o quer que seja.  Não quer isto dizer, que devemos estar apenas dependentes dos acaso ou do destino. Não estamos aqui para ver passar comboios, estamos aqui para fazer coisas, darmo-nos uns aos outros, amar, aprender, respeitarmo-nos. Foi um ano de aprendizagem. Assimilar o que se passou antes, viver o presente e esperar o melhor do futuro, mas sempre consciente que é no aqui e agora que estamos. É hoje que quero fazer alguma coisa por mim, ser uma pessoa melhor, ajudar os que me pedem e os que não pedem mas desejam, saber ouvir, compreender sem julgar, sentir-me bem comigo mesma, gostar de mim como sou – RESPEITAR-ME. Compreender que cada um de nós é único e é isso que no

Feliz Natal

Este natal o presente sou eu, como em todos os outros. Inteira e incompleta, mas presente no tempo e no instante certo. Neste natal, no que passou e no que ainda virá, serei o teu presente, sempre. Como dádiva de natal na vida que nasce e renasce, e no tempo do presente que conta. Hoje. Este natal o presente sou eu. Este natal o teu presente sou eu.

Muitos parabéns!

Hoje voltamos ao sitio onde pertencemos. Aqui onde os nossos antepassados trocaram as planícies e os planaltos do Alentejo pelas montanhas da cordilheira central. O céu parece mais próximo da terra, e os cumes altos destas montanhas parecem que entram pelo céu a dentro. Tudo é duro, forte e marcante:  a paisagem, os cheiros, as cores e a água.  Aqui criaram raízes as pessoas que geneticamente nos integram, os pioneiros da nossa origem. Estamos aqui hoje para homenagear um homem da terra. As gerações que se rendem, e que regressam sempre ao ponto de partida. O filho que foi neto, que é pai, marido, irmão, tio, cunhado, sogro, avô e amigo. São 70 anos, mais de 25.000 dias de vida. Muitas histórias, aventuras, partilhas e regressos a casa.  És tão nosso como és daqui.  Somos todos, trouxeste-nos até cá, vezes sem conta, mostraste-nos o teu amor por esta terra e como é importante para ti.  Voltámos hoje para que se cumpra mais uma parte da tua história, da nossa e de todos os

Salvação

Salva-me. Não é um pedido, é uma urgência. Leva-me daqui, faz-me desaparecer. Se tiver de me dissolver em ti, que assim seja. Durante algum tempo achei que iria ficar para sempre no momento exato que escolhi viver. Não é verdade. O tempo não parou, esticou-se até aos dias de hoje. Não me imaginava aqui, hoje e agora. Salva-me. Acreditei que algumas sensações nunca iriam passar. Serei sonhadora ou ingénua? Não quero redes nem rédeas. Quero descomplicar o complicado, desfazer novelos e teias intrincadas. Quero que sejas tu mesmo e que me deixes ser como sou. Salva-me.   Suportar os dias longos, os dias curtos, o frio e o calor. Viajar leve, sem destino ou bagagem. Acreditar que a liberdade é isto tudo e nada. Evitar prisões e precipícios. Aprender a sentir para fazer, esquecer de pensar.  Salva-me antes que a noite caia. Guarda-me na alma como um bem precioso. Dedica-me tempo, entrega-te. Juntos podemos salvar o mundo. Mas antes disso, salva-me. 

Milagre

Querem que nos tornemos adultos. Eu só sei ser mulher. Na memória guardamos as coisas mais extraordinárias. Informação, factos, tudo o que nos marcou. De certa forma fica tudo armazenado nesse grande sótão, onde vamos buscar informação sempre que necessitamos. Mas nem toda a informação é de utilização corrente ou prática. São coisas que se sentem e que se vivem em momentos muito específicos da vida. Momentos únicos, que apesar de os percebermos únicos no momento exato em que os vivemos só anos mais tarde, os absorvemos como deve de ser. Naquele tempo era só adulta e agora sou mulher. Sou hoje uma versão melhor de mim mesma, em constante melhoria. Saber que existem pessoas que me acrescentam, traz-me uma felicidade imensa. Relembram-me que milagres são possíveis e que a magia é tão real, como tudo o que se vê e toca. Dão outro significado à vida e a tudo o que é banal. Sabem usar as palavras para além do seu significado, conferem-nos importância. No dia em que desapar

8 Dezembro

Cancel my subscription to the Resurrection, Send my credentials to the House of Detention I got some friends inside © Jim Morrison

Vazio

Perdi a noção do tempo. Não sei o que fiz hoje, ontem e esta semana.  Não sei quando te vi pela última vez. Não me lembro quando andei pela última vez de bicicleta. Não me recordo dos teus contornos ou cheiro.  Vivo os dias fora do tempo. Estou sempre um passo à frente. Desfasada da realidade e dos dias presentes. Não vivo no mesmo espaço temporal do resto da humanidade. O meu calendário segue um ritmo próprio. Alguns dias não se perdem irremediavelmente, repetem-se até funcionarem.  Dentro disto tudo, dão-se r eencontros com espaçamentos de vários anos que parecem que foram ontem. Vozes que nunca se esquecem. Viagens e momentos que se revivem vezes sem conta, não por saudosismo mas pela alegria contagiosa de felicidade. Sentimentos que não se esgotam. Ainda assim somam-se vazios. Perdem-se lembranças. Relativizam-se importâncias. Instauram-se buscas aos desaparecidos, mortos e vivos. Já ninguém sabe como é simples querer bem. Os espaços ficam ocos, vazios.

Nota

As coisas que ficam por dizer. Treinam-se vezes sem conta, para que nada falhe, quando chegar hora H. Acho que passei a ideia errada, por defesa ou incapacidade minha. Acho que passo sempre essa ideia. No fundo quero sempre mais do que demonstro e ninguém tem de ter uma bola de cristal para adivinhar o que quero, se não disser. Falha minha, eu sei. Não sou desapegada ou desligada das pessoas, especialmente das pessoas de quem gosto. Se percebo que não tenho retorno, guardo isso tudo para mim e mantenho o distanciamento, para camuflar o apego que sinto. Também sei que posso disfarçar tudo isto muito bem, ao ponto de acreditar que é verdade, que sou fria e distante, o que não é verdade. Sou tímida e mais sensível do que demonstro, desapegada e distante não, apenas disfarço para tentar não me lixar toda. É uma espécie de armadura. Para que conste, apeteceu-me beijar-te. Apetece-me sempre, mas não tive coragem. Uma vontade imensa. Achei tinha de ser assim para manter o que est

Complexo de inferioridade

Inevitavelmente, mesmo sem procurar um dia chega. Ou porque estamos mais vulneráveis, ou porque a vida nos corre mal, ou porque achamos que existe uma cabala contra nós (de todo o universo ou de algumas pessoas em particular), ou porque nos fazem sentir assim, ou porque não acertamos, ou porque estamos tristes, ou porque ficamos doentes, ou porque achamos que a vida dos outros é mais fácil que a nossa, ou porque não confiamos em nós próprios…e por ai fora. Há uma sensação de incompetência latente, de fracasso que se resume nisto: somos um fiasco. Não nos destacamos em nada, não reconhecemos valor em nada do que fazemos ou no que sabemos. É reduzir a existência a uma sombra, que não deixa marca e que quase não se vê. No momento em que nos tornamos invisíveis deixamos de existir. E é assim que o resto do mundo nos vai ver, porque é assim que nos sentimos: desvalorizados e depreciados. Os estados que incorporamos na vida, são todos sem exceção provisórios. Vamos ter o dia em

Voar

Enquanto uns dormem, outros partem à aventura... Não sabem para onde vão ou o que vão fazer, só sabem que vão! Sozinhos ou acompanhados, partem com a convicção da conquista eminente. Na bagagem levam aprendizagens, espaço em branco para novas lições e uma vontade enorme de crescer cada vez mais. Imparáveis heróis dos tempos modernos, aqueles que ainda acreditam que o amor salva tudo! Podes querer muito que o outro veja o amor como ele é, mas não o podes fazer ver com o teu olhar.  De mil e uma maneiras, inversões, invenções, ideias, estratégias, tudo…faz-se de tudo para que pareça natural o que devia fluir por si só. Sem que fosse preciso fazer o pino, arranjar um tema, um objetivo, uma suposição… acontecer só porque é natural.  O que acontece entre duas pessoas que se descobrem ou que se encontram sem se procurar, deve ser inato. Não deve obedecer a rotinas, calendários, agendas ou disponibilidade. É sentir, só isso. Deixar acontecer. Somos os nossos principais inimig

Pormenores

Imperfeita, desajeita, chata e cabeça dura. Aquela que fica horas a fio numa fila sem se queixar, porque meteu na cabeça que tem de comprar aqueles bilhetes. Que espera à chuva no carro, para ajudar uma amiga numa missão arriscada. Que muda uma casa em várias viagens de carro, vezes sem conta, até que a amiga fique no sitio onde se sinta segura. Prega partidas ao telefone e tem lata para pedir coisas absurdas a desconhecidos. A que responde a pedidos de SOS de todos os géneros e feitios. A que vai sem medos e que faz o que for necessário para ajudar ou resolver um problema. A que fica a pé noites a fio se lhe delegarem a missão. O que se vê não é o que se tem, existe todo um mistério por desvendar. Tão previsível como imprevisível. Profunda, taciturna e pensativa mas incapaz de fingir. Aquela que atende uma chamada a qualquer hora. Que tenta a todo o custo não deixar mensagens por responder. Silenciosa mas cheia de vida. Capaz de amar as pessoas mais improváveis e de chorar co

Bipolaridade

Não sei. Não sei. Não sei. Não sei. Não sei. Não sei. Não sei. Não sei. Não sei. Não sei.... Não quero saber. Não quero entender. Não quero ser compreensiva. Não quero ser o que esperam que seja. Não quero ser suave. Não quero ser segura. Não quero servir de apoio. Não quero abrir a boca. Não quero responder ou dar justificações. Não gosto do frio. Não quero comer. Não me apetece fazer conversa de circunstância. Não quero ouvir vozes. Não quero acender as luzes. Não quero responsabilidades. Não quero silêncio. Não quero a rotina. Não quero dinheiro. Não quero relógios ou horas. Tenho raiva. Quero partir tudo. Quero que me deixem em paz. Vão bugiar! Quero que tomem conta de mim. Quero que me desejem. Que não finjam preocupação ou carinho. Quero desaparecer. Quero admiração, luzes e alegria. Quero  música em alto e bom som. Quero dançar até cair. Quero imprevistos. Quero interesse. Quero ter tempo sem limites. Quero inteligência e futuro. Quero leveza. Quero ter sorte. Quero pe

Impotência

Os limites podem ser extensos ou extensíveis. Aplicáveis a tudo ou apenas a alguns parâmetros da vida. Ter fronteiras e precipícios.  Fazer das curtas distâncias abismos. O perto separado por quilómetros. Profecias que se cumprem vezes sem conta. Déjà vu. Acreditar sem ver. Sentir sem explicar. Ter fé. Impotência. Incompreensão. Quebrar barreiras. Reescrever a história. Condicionar as células do corpo a funcionamentos pouco habituais. Transgressão. Aceitar a ausência mas odia-la.  Ser o que todos esperam que sejas, sem seres. Silêncios que matam. Conversas imaginárias que se estendem pela madrugada em água.  Dias pequenos. Pessoas pequenas.  Impotência. 

Pecado

Apagar vestígios dos maus tratos sofridos na alma, no corpo e no coração. É por isso que pecamos.  Fingimos coisas que não somos. Deitamos por terra tudo o que acreditamos. Fingimos desprendimento. Não te minto, só te omito a verdade. Minto-me todos os dias e todas as vezes que finjo ser o que não sou.  Invento coisas. Imagino situações, crio alternativas, enfio-me em buracos. As pessoas na rua falam a tua língua. Eu não, mas compreendo sem saber o quê. Finjo que quero pouco. Em cada encontro finjo. E pecamos vezes sem fim. A vida apodrece à volta. Finjo que não há amor. Cumprem-se vontades como quem pica o ponto. Obrigações. Tudo camuflado em suor. Com sexo não se promete nada. É mentira. São ideias que se compram na resposta à condição humana. Pecamos. Fingimos que o amor é mal menor. Desnecessário. E continuamos a pecar. 

Conversas imaginárias

Outro dia dei por mim a pensar em tudo o que te poderia dizer. Tanta coisa, que foi difícil estruturar o pensamento. Primeiro, saiu tudo ao monte como se tivesse de despejar uma gaveta. Nem eu percebi bem, tudo o que disse ou que teria de dizer. Se nem eu percebo, como irias perceber? Voltei a arrumar tudo, para começar por partes. É terrível, tenho sempre vontade de dizer tudo ao mesmo tempo, sem lógica, sem encadeamento, desenfreada, meia louca. Depois tive dificuldade em arrumar os temas por importância. Parece-me tudo importante, tudo urgente, tudo vital. Pensar assim acelera-me a pulsação, a respiração, altera-me a ordem das palavras. É um mix de adrenalina com ansiedade, água que ferve em ebulição. E fico a pensar. Oriento as ideias em tudo o que tenho para te dizer. São milhares e milhares de boas palavras. Queria que alguém me oferecesse este conjunto de palavras, que me fizesse sentir especial, que depositasse a esperança da humanidade em mim, como eu deposito em

Desejo

Podemos desejar muito. Podemos desejar tudo. Se acreditarmos que merecemos este mundo e o outro, dificilmente alguém ou alguma coisas nos conseguirá deter. As proporções são sempre desproporcionais, entre o que achamos e sentimos que é nosso de direito e o que os outros acham. O que o mundo nos está disposto a dar depende sempre do nosso grau de empenho e conquista. O que os outros acham pouco importa, até porque irão achar que foi apenas sorte, e não trabalho o que conseguimos. Irão sempre achar-se injustiçados. Os outros serão sempre os outros, no seu próprio caminho. Se não vergamos somos arrogantes. Se vergamos, somos fracos. Se queremos muito, petulantes. Nunca haverá consenso. Nunca será fácil. É preciso inspirar e expirar. Parar, avançar e nunca desistir. Moldamo-nos com o tempo. Construímo-nos todos os dias. O que precisas de verdade? Sabes? Podes estar apenas a alimentar uma ilusão. Vais chegar lá, mas não vais ficar preenchido. É o risco que se corre, quando nã

Morrer

Morre-se de saudades, de sede, de fome e de vontade. Morre-se todos os dias quando não se diz o que se quer. Quando vivemos subjugados pelo medo, pela indiferença, pela crueldade e falta de amor. Morre-se com o veneno dos dias medíocres, das pessoas, dos entraves e dos boatos. Morre-se com saudades do que nunca se viveu, do que se viveu, dos que já partiram, das almas boas que seguem, dos cães e dos gatos. Morre-se de frio e de calor. Morre-se de ignorância, da falta de raça e do rancor. Morre-se da doença física e espiritual. Morre-se porque é o fim natural de todas as coisas.  

Ciências exactas

Exactas não, mais do que isso: precisas, certeiras… Quando nos ensinam na escola que menos com menos dá mais, diz a matemática, não parece lógico. Mas é assim, menos com menos dá mais. Se cada um dá menos, terá de ser um menos em proporções iguais para dar mais? A matemática nunca foi o meu forte. Dá mais como? Se é menos, e que eu saiba o menos é pouco. Convencionou-se que é pouco. Ou é um menos com qualidade e por isso fica positivo? Não é a proporção mas a intensidade. Ou tem de se trabalhar mais para que o pouco se converta em muito? Ou mais. O mais pode não ser necessariamente muito. Esta é uma boa reflexão para acompanhar com álcool. Se ambas as partes dão cada vez menos, tendem a desaparecer. Os elos quero dizer… nenhuma relação se mantém a conta gotas. Ou não devia. Hoje tudo é possível e permitido desde que aceite por ambas as partes. Só que alguém fica sempre prejudicado, porque dá mais na esperança de aumentar a proporção em que recebe, é um risco que se corre. É um

Turismo

Fazer turismo é provavelmente a melhor ocupação que se pode ter. Não é fazer turismo como quem faz turismo.  É saber fazer turismo, sem medo de descobrir o desconhecido. Aceitando os imprevistos, a falta de luz e a fome. Um turismo diferente, pensado para pessoas, situações e locais diferentes. Não é ser um turista acidental nem fazer turismo só por fazer.  É ser aventureiro, explorador daqueles sítios reservados aos poucos heróis que têm sorte de descobrir todo um mundo escondido. Os que acreditam no que sentem e atiram-se sem medos. Os que socorrem os apelos do corpo com viagens turísticas aos pormenores mais recônditos do corpo humano. Não é para todos, só os corajosos chegam lá. É sobreviver aos dias maus. Às chuvas e trovoadas. Ao pouco, ao muito e ao nada. É saber esperar, como um caçador espera pela presa. O momento certo faz a diferença. É saber farejar, lamber e rastejar os pormenores nas pequenas dobras, detalhes, sinais e marcas. Mapas de tesouros que nunca nos

Contra-relógio

Chegou a revolução. Quando se quiser, como se quiser. Sem barreiras, hoje. Tem de ser hoje, só porque eu quero. E quem manda aqui? Eu. Não há roupa. As palavras saem de forma fluente e ordenada. O dia é igual à noite. Amanhã não se trabalha e eu decreto-te como património da humanidade. O telefone toca e tu atendes. O meu telefone toca e eu atendo. Diz-se o essencial. Compreende-se tudo. Sinceridade. Amor. Amizade. Cocktail. Tudo num só copo. Começamos pelo principio. Partimos sem bagagem. Quem manda aqui, sou eu. Não existem regras. Eu atiro coisas e tu apanhas. Tu atiras coisas e eu apanho. É hoje o dia da revolução. Fica só o essencial, acima de tudo fica o essencial. 

Articular palavras

  Arte, saber, domínio. Dom. Tenho alguma dificuldade em conseguir articular verbalmente tudo o que consigo escrever. Quando escrevo, oriento as ideias, elimino partes, mudo os sentidos, consigo encadear as palavras de forma lógica e orientada. Fazem sentido assim, querem dizer isto assim ou mais. O que é claro fica mais claro, os subentendidos mais sofisticados. Posso refletir, corrigir, reescrever, apagar tudo, voltar ao inicio. Escolho o tom que quero e como quero. Exponho mais ou menos consoante a minha vontade. Digo tudo e não digo nada. Quando escrevo o raciocino flui, não se sobrepõem como nas conversas. Dá espaço para que diga o que gostaria de dizer, bonito, feio, forte ou fraco.  O tom da minha voz atrapalha-me, o som das palavras mistura os contextos, já não sei o que quero dizer com principio, meio e fim. Nunca digo tudo ou digo mal, ou esqueço de metade. Não domino esta arte, o bom discurso tem de ser escrito primeiro. Ou bem treinado. Ou temos de ter o completo c

Jet-lag

  Quando eu quero, tu não queres. Quando eu posso, tu não podes. Ás vezes queremos mas estamos em pontos opostos do mapa, ou a rotina ou os compromissos. Nem em sonhos nos encontramos, porque acordo cedo e deito-me tarde, porque dormes pouco e não se consegue nada com pouco tempo a sonhar. Porque sonho acordada e tu não. Sou demasiado racional para libertar coisas. Mas parece que este é um problema da sociedade actual. Felizmente ou infelizmente, não é exclusivamente meu ou nosso. As pessoas deixaram de saber relacionar-se. Deixaram de acreditar em milagres, magia, amor e algum romantismo. O fim das cartas por correio assinala a morte prematura destas coisas todas. Deixou de se saber esperar, deixou de se acreditar… do conhecer com tempo e com disponibilidade. O de estar só por estar. Saber esperar por um telefonema, por uma carta, por que nos batessem à porta. Encontros marcados com semanas de antecedência, sem hipótese de desmarcar e sem querer desmarcar. Ansiedade que m

Desencontros

São confusos e desorganizam o sistema. Entendo. Acontecem. Mas não são pacíficos. As dúvidas do que é. É ter certa uma expectativa que não se concretiza? É não lidar bem com planos mal planeados? É achar que o denominador comum nos desencontros do mundo, sou eu e apenas eu. Tudo o que muito se quer, desencontra-se de mim. Mesmo que tente contornar a realidade, as histórias, os desencontros parecem inevitáveis. Sempre. O regresso do dramatismo profundo. Que não gosto, mas é quase inevitável. Maldita lua em peixes. As dores da alma saltam quando menos se espera. Dizem, que nos faz crescer, que nos fortalece. Cada um tem de fazer a sua parte. Depois passa e as ideias reorganizam-se. A origem identifica-se, tralha que estorva o caminho. Os calcanhares de Aquiles mal arrumados. É uma tormenta que esmaga. Dói por dentro. Dói e dói a sério. Queima a agonia.  O denominador comum, eu. Falha inevitavelmente porque sou eu. Não mereço mais do que isto. Os outros veem isso. Sin

Matemática

E então? Não são as máquinas que imortalizam os momentos. São as pessoas. A memória fixa pormenores. Os sentidos registam o resto. Eu guardo tudo. Faço questão de parar o tempo, sempre para te guardar em momentos só meus. Registo detalhes. Depois pego e construo as histórias como quero e dou-lhes o sentido que bem entender. O ser humano produz tanta coisa interessante para se guardar. Detalhes próprios de cada um. Nunca vejo o mesmo. Vejo sempre mais. Descubro sempre mais. Tens muito. Como eu. Longe dos olhares alheios, temos muito mais. Não somos apenas nós. Não somos apenas pessoas que se partilham.  Somos momentos de pessoas que se dão. Com gosto. Com vontade. Somos matemática complexa. Mas de resultado certo.

Até à lua...

Aquele momento em que te ligam de madrugada e percebes que ias ter com aquela pessoa nem que estivesse na Mongólia.  Mas não vais, ficas ali. Imóvel. Campainhas, soam campainhas. O sono atrasa-se para o dia a seguir. Na realidade nem pensas em nada. Ficas só, de olhos abertos a pensar se tiveste coragem porque disseste que não ou porque não disseste que sim. Querias ir. E irias. Mas não tens autorização para isso. Há que respeitar as regras. As coisas são como são. E tu aceitaste, assumiste como provisório. E era.  O teu caminho era outro. Ficou o aviso que irias partir, quando esse momento chegasse. Sem olhar para trás. E foram chegando várias ameaças que estaria para breve. Não aconteceram. Não estava destinado. Não resultou, não quiseste. Estes cenários só funcionam nos filmes ou quando nos dão autorização para isso. Não tens autorização. Não vais dizer que queres mais a quem não vai alinhar. Estas manifestações são noutras histórias. Filmes e coisas que se inve

Viver todos os dias cansa*

Algumas bandas não sabem fazer música má. Tinha os Coldplay neste rol, mas entretanto ouvi o ultimo álbum de uma ponta a outra… e desta vez não acertaram na fórmula.  Mas são bons, lá isso são. Já os Onerepublic, continuam no bom caminho… Sempre com as palavras certas, nas mais variadas boas músicas que produzem.  “Some people lie but they're looking for magic Others are quietly going insane I feel alive when I’m close to the madness No easy love could ever make me feel the same (…)” A que se resume isto: F***-** Facilitem um bocadinho, sempre é cansativo. *titulo emprestado ao Pedro Paixão ao livro com o mesmo nome...diz ele: “Sei pouco sobre as mulheres e cada vez sei menos. Nem sei – ou quando sei já é tarde demais – se gostam de mim e, quando isso acontece, não chego a saber o que isso possa querer dizer. Há muitas maneiras de gostar, é verdade. Quando se gosta de um casaco é ele o que trazemos mais vezes. Com as mulheres é diferente. O

Interpretações

Nos subentendidos geram-se os mal entendidos. O que subentendo pode não ser o que queres dizer e pode ser a minha própria versão do que gostaria que dissesses. Imagino que me dizes tantas coisas. Sempre o mesmo em versões diferentes, melhoradas, revistas e ampliadas. Pode nem existir nada para subentender, pode ser apenas aquilo que está dito e ponto final. Claro, simples e directo. Pessoas com muita imaginação, traçam muito cenários. Fazem fantasias. Mesmo com provas palpáveis, escolhem interpretações e inventam histórias. Acrescentam acções, suposições e imbróglios. Eternos insatisfeitos com o que se vê, eternos exploradores de romances e histórias mágicas. Iludem-se. Não por insistência, mas por necessidade. Não sabem ser de outra forma, mantêm vivo o optimismo, mesmo num campo de batalha. Sonham de olhos abertos. Filtram pesadelos e adaptam-se à realidade. Ajustam-se. As mudanças físicas acontecem como se os ossos estivessem todos a crescer ou simplesmente a reajus

Não vai a bem, vai a mal.

Algumas pessoas precisam ser despenteadas! Concentra-te. Foca-te. Segue e recua. Faz inversão de marcha, pára! Segue-se um: inspira e expira, com calma. O mundo não vai acabar à amanhã. Roma e Pavia não se fizeram num dia e uma criança demora 9 meses a ser gerada. Há tempo e momentos para tudo. Não tem de ser uma coisa linear, pode ser um tempo e momento personalizado. Cada um sabe de si. Preocupa-te contigo e não com o que os outros pensam. AMA, AMA, AMA livremente… permite-te sentir. Cai e levanta-te. Sê grande. Maior que o teu tamanho. A alma também se amplia. Deixa as melenas do cabelo caírem soltas, sem obrigatoriedade. Anda descalço. Sente frio e calor, aprecia! Deixa que te abracem. Deixa que a pele te toque, arrepia-te. Fala baixinho. Sente muito, sente tudo. Permite-te. Despenteia-te. Sê livre

Terramotos

O reconforto de um ombro, de um amparo, o estar só por estar. Só isso. Gestos simples. Intenções de afecto puras e raras que valem uma vida inteira. Conjuntos de palavras que salvam a humanidade da solidão e da secura dos tempos:  foste o melhor que me aconteceu hoje. Preocupações de carinho. Desapegos com amor. Gestos perdidos na rotina do tempo e nas exigências da vida quotidiana.  Desperdícios desculpabilizados por tudo e por nada. O deixar de lado o essencial para nos concentrarmos no trivial. Falar e não fazer. Fazer e não falar sobre isso. Intenções em segundo plano para quando der tempo. Quando sobrar um tempo, nunca sobra! A resposta recorrente: um dia destes. Assim que puder. Prioridades trocadas, prioridades de natureza duvidosa que nos entopem dos dias. Verdades absolutas que camuflam dúvidas. Pânicos e medos que minam o espirito e que aceitamos como ossos do ofício, sinal dos tempos. A natureza humana é complexa. A simplicidade é tudo o que se deseja, m

Bem maior

Há dias assim… Parece que não terminam e parece que nunca nada é fácil. E não é… Provavelmente nem me posso queixar muito. Mas é verdade, mesmo que não pareça aos demais mirones… mas aqui para estes lados é sempre preciso uma dose de esforço, empenho, dedicação e paciência para alcançar objetivos. As coisas não caem do céu por milagre… é preciso fazê-las acontecer ou esperar pelo momento certo para o fazer. Nada é leve e suave, vem com alguma dose de transpiração e nervos. É assim em tudo… tudo tudo tudo sem exceção. Como diz o meu sobrinho, quando estamos lá no céu e escolhemos onde queremos nascer (sim ele diz mesmo isto…) escolhemos o que temos. Suponho que nesse momento, temos consciência do que precisamos passar para a nossa elevação da alma. De certo que uns têm caminhos mais penosos e outros mais leves, mas todos temos um caminho só nosso. Vá… uma treguazinha é sempre bem vinda. Só para sentir algum alento...  O difícil faz-nos valorizar a vida… não é preciso

Estou aqui para ti

Na correria do dia a dia, esquecemos pequenos gestos. Estou aqui para ti, é um deles. O estar só por estar. Em silêncio mas ali no momento, no presente. Existimos fisicamente para nos ligarmos uns aos outros. Que importam os 500 amigos no facebook se nenhum vai estar ali… no aqui e agora? Eu estou aqui para ti.  As coisas servem para o que servem e toda a tecnologia tem por trás o bom objetivo de procurar tornar-nos próximos. Somos nós que subvertemos a sua finalidade… adaptamos ao que achamos certo, mesmo que o certo seja destruir a base. Há pessoas que sabem que estamos aqui, para eles. Para dar o corpo às balas, para o bem e para o mau, os amigos inabaláveis que não desistem de nós mesmo quando não respondemos ou nos ausentamos ou até mesmo quando somos incorretos. Estão sempre lá em pequenos pormenores… a respeitarem o nosso espaço. Mas sempre preparados para o regresso ao nosso sinal. Uma amizade bem alimentada é das melhores coisas que temos. Não exclui o amor, nem a

O efecto

Manifesta-se, dá-se, pede-se, surge naturalmente, é treinado, pratica-se, acontece… Exterioriza-se sempre que alguma coisa mexe connosco? Dá-se quando sentimos necessidade de demonstrar amor/carinho? Ou quando alguém nos pede? Pede-se quando precisamos? Surge naturalmente porque é inato à natureza humana? É treinado porque nem toda a gente nasce com a capacidade para ter/dar/manifestar afecto? Pratica-se, como se pratica a gentileza ou os músculos para que o corpo não perca forma e elasticidade? Acontece porque faz parte do mundo? É palpável. Precisa-se.

Quero mais disto!

Não existem situações perfeitas, são perfeitas na medida da nossa realidade. Dizer que são perfeitas até é um exagero, afinal de contas o que é a perfeição? Ser feliz? E a felicidade é feita de partículas de várias coisas que chegam de todos os lados. Um sorriso, um beijo, um toque, uma confidência, a sorte de atender uma chamada a tempo, ter sacos para ir ao supermercado, um abraço, um agradecimento… não precisam ser coisas extraordinárias para serem perfeitas, acontecem no tempo e no momento exato que precisamos. Nunca antes ou depois, são precisas no instante. É a segurança de nos sentirmos íntegros. De sabermos o que desejamos sem medo de mudar de rota se necessário, mas conscientes no nosso próprio corpo, do sangue que corre nas veias, do coração que bate dentro do peito e do calor dos que se deitam ao nosso lado. Não estamos sozinhos, somos todos um. Entre cruzamos caminhos e histórias de vida, damos a mão e entregamo-nos. Queremos fazer melhor do que aprendemos, sabemos

Fragmentos

De tudo o que guardo em mim, isto é talvez o pior, o mais difícil de ocultar. É um esforço que me ultrapassa que me queima por dentro. Queria gritar, bem alto para todos ouvirem... para eu própria ouvir: é amor.  Acredita que é amor! Não queria esconder, mas não sei ser de outra forma. Tenho medo. O silêncio é a minha defesa. Se eu não souber mais ninguém sabe. Se eu não disser mais ninguém ouve. Se não partilhar é como se não existisse... Inspiro. Inspiro. Expiro. Não sai. Fica lá, agarrado as entranhas, como se afirmasse: dai não saio e daqui ninguém me tira. E não sai, não morre, cresce, ilude-se, emociona-se, duvida... Colado nas paredes da pele e dos ossos, que o extraem das células como o néctar divino. Todos desejam o que tu tens. O que julgas ter, o que tens medo de sentir. E tu que fazes? Não crês.. . Não queres crer... Nem ver, nem sentir, nem cheirar, nem lembrar, nem esperar muito mais... Tu queres isso tudo. Não sabes como... És incapaz

Campainhas

Perdeu-se a excitação de falar ao telefone.  O momento era aquele e só aquele, durante aqueles minutos ou horas, teríamos de falar de tudo e aproveitar cada instante. Na hora marcada para garantir que do outro lado nos atendem. E ficar confortavelmente a falar sem noção do tempo, a debitar palavras soltas, risos, memórias sem saber quando iriamos repetir o momento. E se não atender? Não vou saber quem ligou... E há-de voltar a ligar se quiser muito, sim porque não ficava registado deste lado, terá de ser o desejo ou a urgência do outro lado a voltar. Combinar uma hora e saber que às 20h o telefone vai tocar para nós, para perdermos a noção do tempo, do espaço e de tudo. Mas perdeu-se a emoção de falar ao telefone... Horas a fio, longas chamadas de fim do dia ou no final da semana ou apenas um olá: só para saber se estás bem. Queres sair? Queres fazer alguma coisa? Vamos tornar esta conversa real... E íamos. Perdeu-se isso tudo.  Um dia deixo cair da minha vida o telemóvel co

Mais além...

Não existem pessoas perfeitas. Existem pessoas que não se dão por satisfeitas ou vencidas com o que pensam, com o que têm ou com o que são. Uns torturados pela vida, outros que passam suavemente pelos dias mas todos intensos. Aqueles que não querem ver o obvio, querem ir mais além. Os que se sentem derrotados pela incompreensão, os que lutam para marcar uma posição, para vencer uma causa, para não seguir a carneirada porque precisam respirar de forma diferente e sentir de forma diferente. Não querem o óbvio, não querem apenas o que se vê com os olhos. Sentem de forma diferente mas parecem iguais a todos os outros. Mas não são. Estão dispostos a desbravar o mundo carregados de um medo terrível de se expor ou de se dar. Lutam contra o mundo e contra si próprios. Fecham-se do mundo e de si próprios. Apagam a luz e enfiam-se em buracos fundos onde só entram os iguais ou alguns aventureiros. Não veem nem na escuridão nem na luz. A vida parece pouca quando é simples, por